Metas de Produtividade
Um assunto muito discutido nas empresas é a necessidade da imposição de metas de produtividade. Embora o meu lado capitalista me lembre constantemente que todo empresário adoraria que todos os funcionários fossem adeptos e cumprissem as tais metas, a análise que proponho aqui é puramente de natureza humana.
O ponto em questão não é a utilidade de tomar como referência um objetivo a se alcançar no tempo, mas sim a imposição e a cobrança obsessiva que aqui entra em xeque.
Imagine Salvador Dali, ícone máximo da pintura e do movimento Surrealista, fechando um contrato com cláusula de número de telas a serem produzidas mensalmente. Pense agora nele tendo pouco tempo para pintar uma obra para poder cumprir a meta do mês. Muito provavelmente seria aquela obra que ele mesmo intitulou com a “Persistência da Memória” (La persistència de la memòria, 1931), embora eu acredite piamente que o próprio tempo que naquele momento persiste em pressioná-lo, colimaria para uma obra muito menos grandiosa quanto ao famoso quadro.
Mas é claro que existe uma outra face! Sei que vou ser questionado: por exemplo, se você contrata um profissional para pintar sua casa em duas semanas, você não vai aceitar passar um mês e não ter o trabalho entregue. Porém, pior é tê-lo no prazo, mas daquele jeito...
Salutar pode ser aquela meta – poderíamos até chamá-la de meta referencial – que pode ser usada como comparação, ou referência para a evolução do próprio trabalho, sem sacrificar a criatividade, cuidado e detalhismo, em prol de uma execução in time.
É como um jogador de basquete que se propõe a fazer 20 pontos por jogo. A cada jogo que cumpre ele se sente mais motivado, se dedica mais aos treinos, analisa o que fez e o que não de correto no último confronto. Mas e naquele jogo em que ele totalizar somente 10 pontos? Necessitará ele fazer 30 no próximo para “manter a média”? Se assim ele pensar vai ser o seu fim, pois a ansiedade vai derrocar o seu desempenho. Na hora do arremesso uma voz vai dizer lá no fundo: “não pode errar senão não vai cumprir a meta!” – e é essa mesma voz que dirá um instante depois: “não podia ter errado!”
Sei que posso ter sido superficial ou até posto produtos diferentes em uma mesma embalagem. Mas isso, acredito, sem prejudicar a conclusão de que a imposição do tempo para cumprir um objetivo pode funcionar bem para máquinas, mas para nós humanos, isso sempre vai lesar diretamente as nossas características mais humanas, especialmente a criatividade.
"The Persistence of Memory" by Salvador Dali
Dizem que Dali só levou 2 horas para pintar a tela, uma vez que a idéia já estava em sua mente. Talvez o tempo, para os gênios, passe de maneira diferente. Ou talvez, como na própria simbolização dada por Dali para a tela, o tempo fosse irrelevante!
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